The Office (V 2.0)
Chego tarde e a más horas depois do almoço, ainda ofegante pelos 5 cigarros que insisti em fumar de seguida a compensar os que não fumo de manhã. Trazia na mão a (merda da) Blitz deste mês, uma cópia encadernada do novo livro de contos do melhor escritor de sempre (hi hi hi), o maço de tabaco com o isqueiro a fugir para o chão e a mão esquerda enfiada na mala (saco de praia, no fundo) à procura das chaves do escritório.
O rabo de cavalo que fiz de manhã é nesse momento uma versão filho-mais-novo-mutante, os óculos de ler caem-me pelo nariz abaixo e a minha roupa não me fica tão bem quanto achei de manhã que ficava, antes de sair de casa. Nisto, no meio desta linda figura, entro a dizer boa tarde ao Sr. P. (senhor da portaria com ar deprimido e muito profundo que lê um livro por dia e desconfio que são todos sobre vampiros) e a tentar sorrir para desculpar a indesculpável falta de compustura com que entro neste edifício de gente fina.
Abro a porta do elevador com um pé e atiro-me lá para dentro toda contente. Tenho, ou pelo menos acho que tenho, cerca de 28 segundos para me compôr e encontrar as chaves até chegar lá acima. Nesta altura entram-me dois arquitectos no elevador. Correcção, entram-me no elevador dois tipos giros de morrer que eu sei que são arquitectos porque vão para o andar debaixo do meu. Bonito. Sorrio outra vez e lembro-me que nos filmes as miúdas como eu assim trapalhonas são deliciosas e encantadoras e tento abraçar a minha situação.
No meio deste xirimbéu todo o elevador desata a apitar. Aliás, desata a tocar porque parece o som de um telefone. Eu, como nos filmes claro está, digo uma piadola: "Se for para mim não estou". Não tenho graça nenhuma, caraças. Continua a tocar. Ninguém ri comigo. Não me consigo compôr ao espelho com estes dois aqui plantados.
Chegamos ao andar deles, saem, sorriem e dizem boa tarde. Aí, já prestes a suspirar de alívio e a desapertar um botão das calças por causa do susto, antes da porta se fechar vejo a mãozinha de um deles ainda a agarrar a porta e a espreitar com a cabecinha. - Sabe, o elevador quando faz este barulho geralmente é porque vai cair ou parar. Boa Sorte! E fecha-me a porta. Fecha-me a porta! E enquanto dentro do elevador a apitar estridentemente eu ainda soltei um Meh?! consegui ouvir os risinhos dos dois arquitectos giros à brava e com idade para ter juizo.