Kharma and the bitch
Quando entrei para o 5º ano, para a escola que seria a minha até ao 12º, sofri bastante. Qualquer pessoa, aliás, que entrasse no 5º ano naquela escola sofria bastante. Na fila para a "menina" para ir comprar folhados mistos levávamos uns socos nas costas dos grandes, na fila para o almoço os grandes passávam-nos à frente, na carrinha tropeçávamos nas rasteiras dos grandes à saída, e à noite sonhávamos que os grandes nos queriam matar.
Os grandes tinham mais um ano que nós. E estou em querer que havia praticamente um grande para cada um de nós. Eu tinha uma, uma grande grande. Hoje chamam-lhes bullys mas acho que é só pelo gozo de nos por todos a dizer bullying que é uma palavra muito engraçada de dizer.
A minha grande traumatizou -me de tal forma que há cerca de um ano, numa fila para pagar as bebidas numa dicoteca me passou à frente, e eu não só não fui capaz de dizer nada como mordi o lábio inferior para não desatar a chorar que nem um bebé. Teria sido um espectáculo maravilhoso.
Quis a conjuntura da situação contextual que nos viéssemos a encontrar num casamento agora, e que ficássemos na mesma mesa, coisa que temi que fosse acontecer e daí ter começado a emborcar gin tónicos praticamente à saída da igreja. Quandfo me pediu um cigarro olhei para o meu JT com olhos mareados como quem diz ela está a falar para mim, salva-me, ao que o JT responde prontamente (é o meu herói) que eu não lhe dava cigarros coisa nenhuma porque ela era uma cabra para mim quando eramos pequenas. Como estávamos todos bem bebidos rimos bastante, dei o cigarro à rapariga e fomos falar de fusões e aquisições para a varanda.
Umas horas mais tarde, ainda estupefacta comigo própria por ter estado a falar de mercados e da crise financeira com a minha grande, entro na casa de banho para ir tentar esconder a 5ª malha do meu collant. Oiço um grunhido a vir da única casa de banho que estava ocupada e deparo-me com um quadro de decadência que tenha eu 80 anos não me vou esquecer. A minha bully, completamente de rastos com a bebida, postrada entre duas paredes a vomitar como se não houvesse amanhã, e a pedir-me ajuda. Apressei-me, disse claro, claro, fui buscar uns dodots para se limpar e tirei uns 5 segundos para respirar fundo.
Dei-lhe o paninho, deixei-a entregue e saí. Ao sair ainda me cruzei com uma outra grande, a grande de uma pobre coitada da minha idade certamente, e que ia em auxilio da amiga, que ainda ouviu os meus maquievélicos hihihihi.