Trabalhar em secretária de frente para o gabinete do Boss que insiste em manter a porta entreaberta
Boss: Atchim!
a_john: Santinho.
Boss: Metediça!
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Boss: Atchim!
a_john: Santinho.
Boss: Metediça!
Já me pus para aqui a pensar se estarei a aborrecer de morte quem cá vem com histórias dos EUA, da óbvia paixão que tenho por este país, e com este relato de férias que há-de ferir certamente a susceptibilidade de quem está confinado ao trabalho.
Em primeiro lugar peço desculpa se desperto alguma raiva a alguém, pelas razões descritas acima. Mas eu já disse que me fartei de merecer estas férias, e admito que me chamem cabra as vezes que quiserem. Sou realmente um bocadinho.
Em segundo lugar (ando a aprender a ser estruturada) admito também que me chateiem com frases como "porque raio estás a blogar em vez de estares a curtir as férias?". A resposta é: pela mesma razão que os cães lambém os próprio tomates, tá bem? (depois de ver as paragens repentinas da Jonas na estrada para responder ao blog do Quiz, acho que a tenho pelo menos a ela como aliada neste assunto.)
Desculpas, portanto, para escrever mais umas linhas sobre este estado fabulástico que é a Florida.
Ontem jantei, pela primeira e talvez última vez na minha vida, num Country Club. Sim, daqueles à filme, onde se anda a penar 10 anos para uma membership, onde as meninas filhas dos membros fazem o debute, onde todos se conhecem e têm cacifos de madeira com o nome em placas douradas. Piroso meets cheio de dinheiro meets imitação de estilo europeu. A sala de banquete tem temas culinários consoante o dia de semana, as contas são pagas ao mês, os vallets e bus boys e cozinheiros conhecem todos os nomes dos membros, e pronunciam-nos correctamente (raro aqui).
Anunciei-me como miss Oliveira (até hoje tenho sido qualquer coisa como Ouleevierah) e fui reconhecida. O nosso anfitrião, um português a viver aqui há tanto tempo que já chegou ao ponto de só falar de Portugal, é um simpático e barulhento membro do clube. Odeia tudo o que o clube representa, irrita-se com os membros que o cumprimentam cordialmente logo após virarem as costas. Leva sempre um casaco para jantar, apesar dos outros não o fazerem, por serem claramente golfistas e não estarem para isso.
À hora que jantámos tinha acabado um género de happy hour para os membros mais idosos noutra sala ao lado. O termo "idosos" na Florida é muito lato. Estes teriam uns 70s e tais. Para a Florida são idosos muito jovens. Quando entram na sala de banquete, onde íamos nós a meio da veal parmigiana, cria-se um alvoroço animal de cadeiras, guardanapos, risos, chapadas nas costas, piadas aos empregados, apalpadelas nos rabos das senhoras dos outros... um circo.
O nosso anfitrião, já um bocadinho vermelho do Pinot grigio (muito na moda cá, não sabe a nada) diz bastante alto, numa mistura de American, Português e Emigra (que é uma linguagem própria): Free martinis, see. That's what they'll do to them. Está cheio de rednecks, este Country Club, porra!
Estava preparadíssima para escrever um post inteiro sobre o sítio mais fashion da minha vida, sobre como fui jantar ao restaurante onde os "amigos" do Perez bebem mojitos de saké e são fotografados pelos paparazzi. Estava, no fundo, toda inchada de vaidosa, cheia de vontade de fazer inveja a alguém a quem isso importasse.
Mas o meu sistema de adoração de locais fashion-e-trendy-só-porque-sim caíu por terra ao jantar no Nobu. Foi, simplesmente, a melhor refeição da minha vida. Acho que não sou capaz de descrever os pratos (uns faustosos 20 pratos que vieram para à nossa mesa) mas posso tentar descrever a cozinha.
O Chef Nobu Matsuhisa encontrou ouro na sua cozinha Japonesa de fusão... com latina. Numa casca de noz, é sushi, sahimi, tempura e tudo mais, com toque Peruano e Argentino. Vale a pena nem que seja por uns Yellowtail sashimi com jalapeños
ou os Rock Shrimp tempura with spicy cream sauce.
As sobremesas (meudeeeeeeeus) passam por um género de brownie quente com gelado de chá verde e pimentos, e por um tabuleiro de vários Créme Brullés de sabores diferentes.
A minha mesa é logo a primeira redondinha que se vê na imagem de cima. Ia contar também que ao lado há um bar chamado AGO, que o Nobu também pertence ao De Niro, que fica num hotel que já pertenceu à Madonna... Mas a verdade, malta, é que ao contrário de tudo o que é trendy no nosso país, lá come-se mesmo bem.
Passados 4 ou 5 anos de blogar, ainda não aprendi a lição: Nunca nenhum comment me irá satisfazer totalmente.
Para quê tê-los? Amigos bloguis, anyone, discutamos?
A televisão americana, tal como quase tudo o resto neste país, varia de estado para estado. Uma HBO (que existem umas 5 diferentes) tem a programação diferente em cada estado, adequado aos horários e populações. E é fantástica, ou não fosse eu própria um produtozinho dessa pirosice também.
Mais fantástico que a programação nocturna, cheia de Curb your Enthusiasm, CSI e Dancing With the Stars (o Dança Comigo cá do sítio, até agora nenhuma diferença, certo?), é a programação diurna. O dia começa, cedíssimo, com prograams matinais ao jeito do Manuel Luis Goucha, mas de qualidade. O Regis and Kelly, por exemplo, no ar há uns 40 anos e só muda a apresentadora, tem convidados a sério logo ás sete da manhã. George Clooney, Matt Damon, etc. todos lá aparecem com muito respeitinho.
Depois destes hiper matinais programas, a coisa dispersa. Em Miami imperam os canais hispânicos e mesmo os canais americanos respeitam a população. Por isso, durante umas 3 horas do dia há Judge Judy's em várias versões. Judge Mayer, Judge Esteves, and so on. Os casos são tão mais escandalosos quanto mais latinos os sujeitos. Não é por mal, mas é assim que as coisas são. os brancos enganam-se uns aos outros com vendas de automóveis. Os latinos cometem adultério com as irmãs ricas dos maridos pobres e depois ainda vão bailar à noite e dar um par de estalos numa flausina que se fez ao marido.
Há também as novelas. As latinas são as nossas conhecidas. As Soaps, versão americana, claro está, são um universo aparte. Nas Soaps actuais as mulheres ainda têm cabelo à Dallas, os homens ainda usam pulseiras de ouro e há sempre uma pessoa em coma numa cama de hospital e outra, má, a falar-lhe dos seus planos maléficos à cabeceira.
O melhor disto tudo são os programas intermináveis que se estendem tarde fora, com casos da vida e notícias e entrevistas, tudo dentro da cidade onde estamos.
Hoje ao acordar vi das melhores cenas em Tv, de sempre. Na rua, uma repórter toda muito despachada andava de microfone em punho a entrevistar hobos (sem-abrigo) nas ruas de Miami. Foi o que percebi desta conversa:
E: So what you're saying is that you'd rather live here, on the street, than move into a room that is overpriced and of bad quality?
Hobo: Yes, exactly.
E: So you actually prefer to be homeless.
Hobo: Well, you know, this is Miami. You're not living on the streets, it's actually more like wild camping, isn't it?
(Nas minhas mãozinhas, em formato papel.)
4 dias sem fumar. E o momento em que me dá mais vontade é às quatro da manhã deitadinha na cama.
O mojito que bebi fez-me sonhar com um Adrian Grenier vestido à Bogart, a levar-me a um hangar de aviões para jantar.
(Entretanto estou NO SÍTIO para se estar, se somos pessoa para celebrar a saída de office do Fidel Castro. Pois.)
- Update: A calle Ocho esteve ao rubro o dia todo. Tão contentinhos, taditos.
Uma coisinha que me conforta é finalmente viajar para uma zona onde as gajas têm todas um rabo maior que o meu. E a roupa que está à venda corresponde ao mercado, de maneira que acabei por finalmente comprar as calças de ganga que sempre quis e deus nunca costurou.
É a minha segunda vez em Miami, sendo que da primeira me lembro de coisinhas muito idiotas e de miuda, o cheiro a fritos, um taxista russo, um aligator num lago ao lado da Nasa ou um Long Island Iced tea que achei que era assim i iced tea normal e acabei por ficar torta.
As pessoas aqui partem inicialmente do pressuposto de que sou latina (o tamanho do tal rabo, talvez me denuncie) e não há uma única que me fale primeiro em inglês. E o espanhol aqui é um espanhol "pablito" , como diz a malta local. As minhas boas intenções em castelhano caem por terra e é mil vezes preferivel falar em ingles.
Além de latina devo ter tambem ar de criminosa. Em Customs, mais uma vez, fiquei uma bela horinha e meia a ser interrogada por um tipo com cara de mau, que às tantas me dizia que o meu comportamento (risos e tal, o que se há-de fazer) era um compotamento típico de quem transportava Narcotics. Conseguiu assustar-me ao ponto de já estar a aimaginá-lo de luva de latex a enfiar o dedinho pelo meu olho do cu acima a ver se encontrava daqueles pacotinhos que as meninas com ar latino que viajam sozinhas como eu, levam para dentro do país. Manquei o papel de assustada e disse para ele me revistar a mala, se o punha mais sossegadinho. Mandou-me embora a chamar-me sweetie e doll-face. São uns palermas.
Ontem foi dia de compras pindéricas num mall, que tem tudo de tudo de tudo. E fim de tarde em South Beach, a beber um Mojito gigante na Ocean drive, que se pode ver aí em cima.
Nem imaginam o que mereço estas férias, deixem-se de invejozices, vá.
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