Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Célula Estaminal

Célula Estaminal

10
Abr08

The inarticulate begining

Domesticada

 

Depois de passar uns 40 minutos ao telefone com um Húngaro, no que deveria ter sido um telefonema de trabalho e acabou por ser uma conversa sobre a língua húngara, a linguagem em geral, o Chico Buarque e o sotaque dos portugueses, acabei por dar por mim no cinema a ver um filme a partir de um conto Romeno sobre a linguagem.

 

A linguagem, o amor, a transmigração de almas e a origem da comunicação humana são temas que, sem querer, me apercebi que persigo. Nem sei se é possível comparar,mas Youth Without Youth é um filme que na minha cabeça é um The Fountain, mas com um cunho de autor totalmente diferente.

 

O conto de onde parte o guião foi descrito por vários que o leram como algo anti-cinematográfico, difícil, e tipicamente romeno na sua essência. Coppola conseguiu fazer um filme dele.

 

Nem sei se consigo dizer mais alguma coisa sobre isto. Há os que funcionam e os que não. Este filme funciona.

06
Abr08

As boas pessoas.

Domesticada

 

Há vinte e dois anos, em Junho, no Argentina- Inglaterra do México 86, Maradona (com maiúscula) marcou o golo de que vinte e dois anos depois ainda se fala. Do meio campo até à baliza fintou, correu e marcou como nunca mais ninguém. Desse jogo Jorge Valdano conta que a sua única proeza foi ter estado lá, para um dia mais tarde o poder relatar.

 

O segundo golo Argentino da partida, esse, no minuto 54, é imediatamente celebrado pelos milhares presentes no estádio, pela equipa e naturalmente por Maradona e Valdano . No momento da celebração, conta Valdano , Maradona confessou-lhe que esteve todo o tempo a tentar passar-lhe a bola mas que não conseguiu ver uma aberta e resolveu continuar. Pediu-lhe inclusivamente desculpa por essa incapacidade.

 

Ora este conto incrível demonstra-nos duas realidades distintas. A primeira é que além de génio futebolístico (quem re )veja o golo não pode evitar perguntar-se como raio é que no meio daquilo é que aquele homem ainda pensou e mediu de que maneira poderia fazer um passe para golo) Diego Maradona é também uma das melhores boas pessoas do mundo. Arrisco-me até a dizer que Maradona (com maiúscula, nunca é demais frisar) é a melhor pessoa do mundo.

 

A segunda realidade que isto demonstra é que não há nada mais maquievélico ou mesmo demoníaco (duas coisas muito distintas mas neste sentido complementares) do que ser boa pessoa. Valdano conta deste episódio , confessa, aliás, que quando ouviu estas palavras nunca se sentiu tão medíocre na vida. Ali estava um homem à sua frente que acabou de marcar o golo do século, que em dez segundos faz dez fintas e mete a bola na baliza, a dizer-lhe que a sua cabeça também estava, naquele preciso momento, a pensar em de que maneira lhe podia oferecer o golo.

 

Isto é o que ser boa pessoa faz às pessoas normais. Eu não duvido das boas intenções de Maradona , nem duvido que efectivamente tivesse passado a bola. Eu acredito que se tivesse havido a tal oportunidade, abdicaria do golo. Mas a oportunidade não existiu, e Valdano passou de um mero companheiro de equipa e espectador, como nós, daquele jogo, para um inapto jogador de bola não-merecedor do mesmo uniforme que o seu companheiro de equipa. Pelo menos na cabeça dele.

 

E isso ainda se nota hoje. Quem leia qualquer um dos artigos de Valdano nota nele o orgulho ferido e a auto-estima magoada desse momento. Vinte e dois anos depois estou em crer que foi esse dia que o tornou assim, um bocadinho mais inseguro.

 

As boas pessoas não percebem isto. As boas pessoas vêm uma oportunidade de heroicismo e, sem sequer pensar, saltam em defesa de uma boa acção. Sem pensar, porque as boas pessoas não fazem boas coisas por aquilo que isso lhes possa trazer depois. Fazem-no, tenho isto como uma certeza, pelo simples facto de serem boas pessoas, pela bondade dos seus corações. Mas não percebem, as boas pessoas, que as boas coisas que fazem nos fazem a nós, as outras pessoas, sentir umas pessoas de merda .

 

"Personally I'm always ready to learn, although I do not always like being taught." Winston Churchill
mariajoaoso (arroba) gmail.com

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2010
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2009
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2008
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2007
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2006
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2005
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D