08
Dez07
Globalização
Domesticada
Nascida e criada em Portugal, corria-lhe a saudade no sangue, e a calçada portuguesa, e os caracóis em Julho no quintal dos pais, e as brincadeiras de miúda no bairro onde todos cresceram para ser gatunos um dia. Mas essa natureza, de ser portuguesa, é uma condição e não um sintoma. É uma doença em remissão, que um dia nos lembra estar lá e não deixa ser notada muito tempo. Até porque a sua vida era tudo menos fado, era uma canção da Erykah Badu, era um jantar indiano, era um filme de Woody Allen, era por vezes também, um livro de Direito.
Era já tudo isto, em potência pelo menos, até o conhecer. Ele, do outro lado de mares, ou mesmo daqui ao lado. Ele, nascido e criado para ser daqui, mas sendo dali. Ele guarda uma qualidade preciosa. Ela também. E descobriram que guardam a mesma qualidade, como um segredo que mais ninguém sabe. E cultivam-na e alimentam-na e, sem querer mesmo transparecer, mostram ao resto do mundo o que é ter essa qualidade domada e saber usufruir dela. A sensatez. Não, com maiúscula: a Sensatez.
Não basta negar que somos de mundos diferentes, ignorar que os percursos de 26 anos de vida foram diferentes. Não serve de nada desprezar uma herança e uma cultura e uma identidade, e dar as mãos todos juntos como se todos nós fossemos um só. Não somos. E a Sensatez foi o que fez. Soube cuidar das suas vidas, dar-lhes uma razão e um objectivo para se manterem únicos, e juntos. E soube juntá-los na altura certa e soube também cuidá-los, para que as suas vidas fossem preenchidas pelo que mais gostam e por quem mais gostam à sua volta.
A Sensatez quis também que quisessem guardar-se um ao outro. E, como é característico da Sensatez, no sítio certo e na altura certa, um dia, vão pertencer um ao outro. E nós, manifestantes anti-globalização de cartazes na mão, vamos engolir as palavras de ordem e verter uma lágrima por eles.
Era já tudo isto, em potência pelo menos, até o conhecer. Ele, do outro lado de mares, ou mesmo daqui ao lado. Ele, nascido e criado para ser daqui, mas sendo dali. Ele guarda uma qualidade preciosa. Ela também. E descobriram que guardam a mesma qualidade, como um segredo que mais ninguém sabe. E cultivam-na e alimentam-na e, sem querer mesmo transparecer, mostram ao resto do mundo o que é ter essa qualidade domada e saber usufruir dela. A sensatez. Não, com maiúscula: a Sensatez.
Não basta negar que somos de mundos diferentes, ignorar que os percursos de 26 anos de vida foram diferentes. Não serve de nada desprezar uma herança e uma cultura e uma identidade, e dar as mãos todos juntos como se todos nós fossemos um só. Não somos. E a Sensatez foi o que fez. Soube cuidar das suas vidas, dar-lhes uma razão e um objectivo para se manterem únicos, e juntos. E soube juntá-los na altura certa e soube também cuidá-los, para que as suas vidas fossem preenchidas pelo que mais gostam e por quem mais gostam à sua volta.
A Sensatez quis também que quisessem guardar-se um ao outro. E, como é característico da Sensatez, no sítio certo e na altura certa, um dia, vão pertencer um ao outro. E nós, manifestantes anti-globalização de cartazes na mão, vamos engolir as palavras de ordem e verter uma lágrima por eles.