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@halacoisamaillindaquealinguaportuguesa.gov.pt
Se há coisa que me faça voltar a blogar é este nervo pelo país que me assola de quando em vez. Sobre este assunto corro sérios riscos de mais alguém se deixar irritar comigo por uma palermice que escreva no blog (it's a blog, people, just freekin' relax), mas como é tudo boa gente, pode ser que isto ainda gere uma discussão a um jantar.
(Entretanto por falar em jantar, nunca por nunca decidam tomar uma refeição, comprar tabaco, pedir um guardanapo, ou usar a casa-de-banho de um restaurante chamado Lisboa Italiana, ou coisa parecida. Ao lado da ginginha no bairro, pronto. Foi um fisco tão grande a que 15 pessoas se propuseram que não houve bom tema de conversa, alcool ou cortar na casaca alheia que salvásse a refeição.)
A notícia, li-a há cinco minutos se tanto, é do público. A manchete dita assim: MNE passa a usar endereços de e-mail em inglês e os diplomatas não estão contentes.
O que isto quer dizer na prática é que os endereços de email dos diplomatas portugueses vão finalmente ser uniformizados num só endereço, como um Gmail, e não terá mais de acontecer o inacreditável que era alterar o domínio de email de cada vez que um membro do MNE era colocado fora do país. Portanto em vez de uma katiasoraia@tin.it se a Kátia Soraia estiver na Argélia,e uma outra katiasoraia@mne.gov.pt quando a Kátia Soraia estiver em Portugal, a Kátia Soraia poderá ter um único mail @foreignministry.pt onde quer que esteja e aproveitar o tempo que isto lhe poupa para mudar o seu nome no registo civil da loja do cidadão.
Os diplomatas estão muito zangados com isto tudo. O Vasco Graça Moura também está muito zangado, mas disfarça bem. Todos estão muito zangados com a escolha da lingua inglesa para o email. Não há direito, realmente, que o Ministério cujo objectivo é o da divulgação, manutenção e representação da vida portuguesa no mundo, se apresente ao mundo com um endereço electrónico que toda a gente compreende. Não se faz.
É muito mais giro, isso sim, além de termos de soletrar o nosso nome exaustivamente a todos os estrangeiros (ter João no nome é uma coisa espectacular, garanto-vos), ainda ter um endereço de email todo cagão cheio de coiso(ponto)maisaquilo(ponto)datuteladeste(ponto)aoabrigodaquele(ponto)Pêtê. E depois cada vez que mudamos de país (coisa que acontece ocasionalmente a quem everede pela carreira diplomática, digo eu) mudar de email e confundir toda a gente outra vez, só pelo gozo da coisa!
A língua portuguesa, coitadinha coitadinha, é maltratada de outras maneiras. Não é maltratada pelo acordo ortográfico, nem pelo governo, nem pelos nemésis todos do Vasco Graça Moura., nem pelos rapazes práticos, inteligentes e eficientes do Departamento de Informática do MNE (mendem-me os vossos CV's, pessoal). A língua portuguesa é geralmente mal tratada pela preguiça e pela indiferença de ser bem falada ou bem escrita.
O artigo do Público faz uma tentaiva muito gira de ser moralista com esta frase: "Com os novos e-mails, pode-se imaginar três diplomatas, um em Lisboa, outro em São Tomé e Príncipe e um terceiro em Brasília, todos a trocar, em português, moradas de e-mail que acabam em foreignministry.pt."
Mas sou só eu que acho isto maravilhoso?