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Célula Estaminal

Célula Estaminal

12
Mai09

Seja ceguinha se não ganhamos isto

Domesticada

 

Aqui há uns tempos jurei que não ia mais a Alvalade num post apropriadamente intitulado "Não ponho mais os pés em Alvalade". Sou uma pessoa sucinta. Não imaginei na altura, embora já devesse saber que é assim que as coisas são, que do meio da porcaria que era o estado do meu clube ainda havia pessoas (novas, competentes e verdadeiramente do sporting) com vontade e capacidade de o salvar.

 

Não ir mais a Alvalade, a uma pessoa como eu, é uma promessa que custa muito. Algumas pessoas que me conhecem imaginam, outras acham provavelmente que sou mais uma miúda irritante que diz que gosta da bola para se fazer engraçada aos senhores. Também, um bocadinho. Mas eu cá sei o que gosto da bola, o que gosto do Sporting e sei muito bem também do que não gosto.

 

O Sporting com que cresci já não era meu, já era do meu bisavô, do meu avô e dos meus pais. Esse Sporting para mim já morreu. Restam-lhe uns avistamentos sobrenaturais e ectoplasmáticos numa ou outra competição de modalidades (as que ainda aparecem) e umas lápides muito honradas que de vez em quando são lembradas. É pena, muita pena, que ninguém ainda se tivesse apercebido que não são os novos, os "jovens" como irritantemente nos chamam, que querem um clube-empresa, despojado de carisma eclecticismo e tradição. É pena que ninguém tenha reparado que não fomos nós que negámos a tradição, que repudiámos a Academia, que fechámos os olhos ao atletismo, ao andebol, ao futsal...

 

Mas alguém reparou finalmente em nós. Alguém juntou as peças e percebeu que o futuro do Sporting é dignificar o seu passado, e não fazer de conta que não somos um clube desportivo. Abençoado movimento Ser Sporting. Abençoadinho.

 

 

07
Mai09

A vida corre inteira pelas nossas mãos

Domesticada

 

 

Os Golpes são uma banda fixe. Têm os seu enquadramento muito bem definidinho para o que corre por aí nos dias de hoje, têm um som porreiríssimo, umas letras do mais apetitoso que há e um estilo do caraças. 

 

Além do espectacular guitarrista (sobre o qual não posso ser muito imparcial visto ser das pessoas mais baris que conheço), Os Golpes têm um frontman de fazer inveja a praticamente todas as bandas portuguesas, têm um baterista no ponto e um baixista que entrou automaticamente para a minha lista dos baixistas bizarros e cheios de pinta. Que são quase todos.

 

Esta canção catita é das melhores deles, mas há tanta coisa boa nos Golpes que vale a pena ouvir o albúm todo. Há tanto tempo que Portugal suspirava por rapazes à espera de raparigas à porta do colégio, educados por uma pátria ausente, a cantar sobre qualquer coisa que significa mesmo qualquer coisa.

 

Os Golpes, da Amor Fúria, estão aqui. E o disquinho está aí.

28
Abr09

Administrative Professional Day

Domesticada

 

Amanhã seria o meu dia, se vivesse nos EUA. Por outro lado, se vivesse nos EUA provavelmente não seria uma Administrative Professional. Ou era desempregada ou era qualquer coisa glamorosa género empresária.

 

Como em Portugal não se celebra a nobre profissão de Secretária como deve ser; o mais que nos fazem é chamar qualquer coisa ridicula como Office Manager (como se alguém me deixasse managear seja o que for), resolvi celebrar sozinha.

 

Por ser uma profissional administrativa organizadinha e ter algum brio no meu trabalho, vou deixar-vos aqui a ordem de trabalhos de amanhã.

 

9.36: Chegada ao trabalho 6 minutos atrasada, e com o peso da culpa de cada minuto de atraso directamente proporcional à fome de não ter ainda comido nada.

 

10.15: Pedido de "uns minutinhos para falar" ao boss. Os homens não gostam destas coisas. Um "temos de conversar" é remédio certinho para ninguém me aborrecer mais durante o dia.

 

11.32: Ligar para a loja a saber se o meu bolo comemorativo já está pronto. Mereço todas as calorias que o bolo terá.

 

13.01: Chamar o elevador e sair do edifício para ir almoçar, sozinha, e comemorar o almoço especial de dia da Secretária. Em havendo vou pedir alheira.

 

14.59: De volta ao trabalho, peço desculpa pelas quase 2 horas de almoço por ser um dia especial para mim, mas provavelmente não estará cá ninguém a quem pedir desculpa.

 

16.00: Chega o bolo.

 

*via cakewreks

 

15.23: Lavar a loiça (um prato e um garfo) e perguntar se alguém quer o canto azul do bolo que sobrou, mas ninguém me responderá.

 

18.30: O meu trabalho (nenhum) está feito e arrumo as coisas para me ir embora.

 

18.32: O boss vem ter comigo e diz que já está disponível para falar e vamos para a sala de reunões.

 

20.26: O meu trabalho está feito e arrumo as coisas para me ir embora.

 

24
Abr09

Obrigada Mãe, e obrigada Pai

Domesticada

 

Cresci a olhar para esta imagem. Estava na sala de jantar dos meus avós uma réplica, bem grande, e ficava mesmo por cima da cabeça da minha avó e de frente para mim quando lá ficava em casa. Antes de saber ler, a minha atenção neste quadro ia sempre para a menina da última janela, que era bonita e parecia feliz e tinha uma flor no cabelo. Isto deve ter acontecido porque evitava concentrar-me nas caras que metem um bocadinho de mdo e que ficavam a ver-me comer.

 

Quando aprendi a ler, a frase "a poesia está na rua" foi lida por mim muitas vezes à mesa, devagarinho - a pôésia estáaa na Érre e U .. RUA. Depressa se tornou numa frase que significava almoços de verão com gelatina de sobremesa, diabruras com a minha prima, Maria-João-pára-de-engonhar-e-come-a-sopa, etecétera e tal.

 

Um dia os meus pais, como quem explica pela primeira vez a um filho como se fazem os bebés, sentaram-me ao pé deles num feriado, tocaram discos do Zeca Afonso e contaram-me, com muito tempo , muito carinho e muitos pormenores o que foi o 25 de Abril. No fundo, os meus pais contaram-me, pela primeira vez, o que eram  para além de serem meus pais. E desde esse dia, nunca mais vi o quadro dos meus avós com os mesmos olhos.

 

Como se automacticamente tivessemos criado uma tradição familiar naquele dia, todos os anos, desse para a frente, na minha casa se contaram histórias do 25 de Abril. Sempre histórias novas, sempre histórias mais intensas com o passar dos anos, adivinhando a minha crescente capacidade de digerir histórias mais pesadas. Os amigos presos, os amigos exilados, os sustos, os insultos na rua, a felicidade daquele dia, a minha mãe com pneumonia a sair para a rua, a minha avó com medo do fim do mundo a comprar enlatados.

 

E com cada ano que passava, lá voltava eu a casa dos meus avós, sentada à mesa de jantar a dar mais e mais significado àquele quadro. O casal apaixonado a beijar-se na rua, a família de cinco pessoas à espreita pela janela, o olhar determinada do quem lidera o corso na rua... Nunca mais vou ver essa imagem sem parar, um bocadinho, a cumprimentar todas as pessoas que lá estão, a ilustrar a história dos meus pais e do meu país.

 

Secretamente, e cheia de peso na consciência, pensava que gostava de ter vivido tudo aquilo, não ter crescido com a minha liberdade adquirida, ter tido um dia assim, para sair à rua e celebrar uma vitória com o resto do mundo. É só hoje que vejo que ter nascido depois de 74 é uma benção escondida. É nascer na liberdade de poder ser mulher, como quero, e poder fazer com as minhas ideas o que quero. E ao mesmo tempo poder agradecer por ter tido este Pai e esta Mãe, que tanto fizeram para que percebesse o privilegiada que sou.

 

 

 

"Personally I'm always ready to learn, although I do not always like being taught." Winston Churchill
mariajoaoso (arroba) gmail.com

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