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Célula Estaminal

Célula Estaminal

21
Jul08

A noite em que me voltei a apaixonar.

Domesticada

****

 

Sábado a noite era húmida e o espaço era desapropriado para o que se ia ali passar. A lua, apontada por Ele vezes sem conta, estava cheia, grande e laranja e de costas para nós. Ele viu-a, nós vimo-lo a ele. Foi uma opção legítima da nossa parte.

 

Até àquele momento, nove horas em ponto, jurava jurava que Ele não existia na verdade, e que era um produto da minha imaginção. Como o cavaleiro andante que as meninas idealizam para o seu casamento, eu idealizei-o a Ele. Bom demais para ser verdade, verdadeiro demais para ser real. Antigo demais para ainda existir. Mas três passos em cima do palco e lá estava. Ali, à minha frente. Existe. O Cohen existe.

 

A partir das nove e um minuto até sensivelmente à meia noite, foram poucos os momentos em que as lágrimas não me cairam involuntariamente pelo queixo abaixo. Uma cena ridícula, até para as senhoras de mais idade ao meu lado, que o tinham vsto em cascais 20 anos antes e sabiam as letras de cor como eu. Olhavam-me com carinho sem compreender como é que uma miuda desta idade, que não conheceu o marido ao som do "Take this Waltz" ou que não dançou numa matiné do Casino do Estoril ao som do "I'm your man", pode estar neste pranto ao ver um tipo que no nosso tempo já era velho.

 

O Gentleman Cohen, figura por Ele criada e muito bem para estes anos maduros, tirava o chapéu para agradecer palmas, e ajoelhava-se e cantava para os membros da banda. E tudo muito bem, nós também pagámos o espectáculo Cohen, não foi só um pedacinho dele. Mas oh alminhas perdidas deste mundo, oh depressões idas, vindas e vindouras, oh males de amor, males de sexo, males de linguagem! Não há literatura cantada como aquela. Não há ode ao falhanço e ao desejo e à luxúria e à decadência como foi no sábado à noite.

 

Não há, no mundo, outro "Hallelujah" que me faça querer rezar a Deus, esquecer o Seu nome, cantar a glória divina do ser humano, ou postrar-me de joelhos e oferecer sexo oral aos homens do mundo. Tudo ao mesmo tempo. E as lágrimas ainda a caír pelo queixo, pelo decote exagerado que resolvi oferecer-Lhe, pelos cigarros que não parei de fumar a compensar o alcoól de deveria ter estado a beber.

 

Ah, e o concerto? Sim, foi isso tudo, sim. O melhor do ano, do mês, da vida se me permitem. Permitam-me lá.

 

Na noite em que me voltei a apaixonar, na minha cabeça tinha tudo planeado. Ia falar com ele, ia cantar-lhe um fado, ia levá-lo lá a casa, desculpe senhor Cohen por não ter elevador mas a sua saúdinha está boa porque saltitou em palco, os cinco andares não hão de  incomodar. Assina-me o Beautiful Losers que me fez devorar mais sexo quando o li que no resto da minha vida até aí? Ah, foi a minha revolução sexual, sim senhor Cohen, obrigada. 

 

Na noite em que me voltei a apaixonar contentei-me com gritar que o amava. E com um sorriso malandro de volta, de chapéu na mão.

 

 

****A foto foi sem pudor nenhum tirada do site do Blitz. Desculpem qualquer coisinha. Só conheci duas pessoas no mundo que fossem capaz desta cara, e dava um mindinho do pé para a poder perceber.

"Personally I'm always ready to learn, although I do not always like being taught." Winston Churchill
mariajoaoso (arroba) gmail.com

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